Postagens

Mostrando postagens de junho, 2025

Quando ele me chamou de mãe

Imagem
Sou mãe de um menino de onze anos. Meu menino. Esperto, lindo e cheio de vida. Mas ele carrega nos ombros uma bagagem que não pertence a nenhuma criança. Uma bagagem que o tempo, a fome, a ausência e a solidão colocaram sobre ele. Ele sabe o que é sentir fome. Sabe o que é não ser cuidado. Sabe o que é andar sozinho por aí, indefeso, tendo apenas a si mesmo. Antes de chegar à minha vida pela adoção, ele viveu capítulos que eu daria tudo para reescrever. E talvez por isso, até hoje, tenha dificuldade de me chamar de “mãe”. Essa palavra parece morar numa prateleira alta demais, inalcançável para ele. Mas na madrugada de sábado para domingo, algo aconteceu. Ele estava com febre. Dormia inquieto, murmurando palavras que vinham de algum lugar entre sonho e delírio. Eu estava ali, ao lado dele, cuidando, sentindo sua respiração quente, atenta a cada movimento. E então… aconteceu. Ele me chamou de Mãe . Foi só uma vez. Baixinho. Quase como se fosse para si mesmo. E naquele instante, o ...

Quando meu filho tentou ser forte por mim

Imagem
Às vezes, sinto um medo que não sei explicar direito. Um medo que se instala devagar, mas ocupa tudo. Medo do meu filho se vincular tanto a mim, que se esqueça de si. Que cresça achando que precisa cuidar de mim, quando ainda está aprendendo a cuidar das próprias emoções. Que carregue o que não é dele, só porque me ama demais. No dia 23 de junho de 2025, nosso cachorro morreu. O Amarelo. Nosso amigo de todos os dias. Nosso companheiro de vida. Foi tudo tão rápido… e tão doloroso. Na véspera, quando o levamos às pressas ao veterinário, meu filho chorou. Chorou baixinho, mas com o coração. Era visível. Mas no dia seguinte, quando chegou a notícia da morte, ele ficou em silêncio. Sentou na cama, os olhos fixos em algum lugar distante, e repetiu a frase que aprendeu com a professora na aula de educação socioemocional: “A gente nasce, cresce, cumpre a missão e depois morre.” Ele disse isso mais de uma vez. Como quem tenta entender. Como quem tenta me fazer entender. E depois disso, ele tem ...

Quando a solidão mora dentro: sentir-se só mesmo cercada de amor

Imagem
Você já se sentiu sozinha mesmo estando cercada de pessoas? Eu já. E não foi só uma vez. Tem dias em que essa solidão me visita mesmo quando estou com meu marido, com meu filho ou no meio de uma roda de conversa. E não é que eu esteja desamparada. Eu tenho com quem contar, tenho quem me ame e quem eu amo profundamente. Mas existe uma solidão que vai além da presença física. É uma solidão que se instala por dentro, como se algo em mim estivesse sempre em falta. Às vezes, parece que estou desconectada do mundo. Como se tudo acontecesse ao meu redor, mas eu não fizesse parte de verdade. Como se eu fosse uma peça de quebra-cabeça que não se encaixa em lugar nenhum. Me sinto assim no trabalho, mesmo quando dou o meu melhor. Me sinto assim como mãe, mesmo ouvindo que sou uma mãezona. E me sinto assim como esposa, mesmo quando meu marido tenta se aproximar e me ajudar de todas as formas possíveis. Essa sensação me confunde. Me frustra. Me faz questionar minha capacidade de estar presente, de ...

Entre a liberdade e a proteção: maternar quem já andou sozinho demais

Imagem
Meu filho gosta de ser livre. Gosta de andar, correr, explorar o mundo com as próprias pernas. E, de certa forma, esse desejo de liberdade me emociona. Mas a liberdade que ele conheceu na infância não era saudável — era perigosa. Era o tipo de liberdade que expunha, machucava, deixava marcas. Como já compartilhei em outros textos, me tornei mãe por adoção. Meu filho chegou à nossa vida com quase oito anos de idade. Um menino curioso, esperto, cheio de energia... e carregando uma história dura demais para alguém tão pequeno. Soube, meses depois da chegada dele, que aos quatro anos recém completos, ele já havia sido acolhido. E, antes disso — ou entre esses momentos —, ele atravessava a cidade sozinho . Sim, sozinho. Um serzinho inocente, indefeso, caminhando entre carros, ruas movimentadas, esquinas desconhecidas... exposto a perigos que nenhuma criança deveria enfrentar. Essa informação me paralisou. Fiquei em choque. Porque, naquele instante, tudo fez ainda mais sentido: o gosto pe...

Adotar uma criança maior: os primeiros momentos que a vida oferece

Imagem
Há quem diga que quando adotamos uma criança maior, perdemos o privilégio de viver os “primeiros momentos” de um serzinho bem especial. Que esses marcos — como as primeiras palavras, os primeiros passos ou o primeiro “mãe” — são exclusivos da maternidade biológica ou da adoção de bebês. Mas digo, com todo o amor e com a vivência de quem está nessa estrada há três anos eu digo: isso não é verdade. Meu filho chegou até nós com quase oito anos. Hoje, tem onze. E, ao contrário do que muitos pensam, a nossa vida é repleta de primeiras vezes . Talvez diferentes daquelas que idealizamos, mas não menos emocionantes. Não ouvi ele me chamar de “mãe” pela primeira vez — na verdade, ele nunca me chamou de mãe, e talvez nunca chame. E tudo bem. Porque o vínculo que construímos vai muito além das palavras. Desde que ele chegou já vivemos muitas primeiras vezes. Lembro-me da primeira vez que fomos ao shopping. Ele experimentou chocolates com frutas — algo tão comum para muitos — mas inédito para e...

Quando tentar demais começa a doer

Imagem
Tem dias em que tudo o que eu queria era parar de tentar. O cansaço vem e eu penso: e se eu parar? Parar de tentar ser uma boa mãe, uma esposa equilibrada, uma profissional eficiente, uma mulher forte. Porque tentar o tempo todo… cansa. Cansa de um jeito que machuca por dentro. É como se eu estivesse afundando devagar, como se meus braços estivessem pesados demais para me manter à tona. Eu me esforço para subir, para respirar, para seguir — mas a superfície parece sempre longe demais. E sabe o que é mais difícil? Sentir que ninguém percebe o quanto eu estou lutando para não desistir. Tem dias em que eu me pergunto: e se eu simplesmente largasse tudo? Se deixasse de tentar? Mas logo vem a culpa, o medo, o peso. Se você também sente isso, eu queria te dizer que você não está sozinha. Esse texto é o meu jeito de estender a mão, porque talvez a gente precise disso: uma mão, um colo, um lugar pra descansar o coração. Quando tudo parecer pesado e difícil demais, tente… 💧 Respirar fundo...

E quando a gente dá tanto… e recebe tão pouco?

Imagem
Me diz, você já se sentiu assim? Como se tudo que você faz nunca fosse o bastante… ou, pior, como se ninguém percebesse o quanto você se doa? Eu me sinto assim. Mais vezes do que gostaria de admitir. E, sempre acabo me sentindo sozinha. Se eu vou pra cozinha, faço questão de caprichar. Escolho com cuidado os ingredientes, penso no que cada um gosta, tempero com amor, porque, pra mim, cuidar é uma forma de amar. Se limpo a casa, não é só pra ficar apresentável. Eu quero ver o branco voltar a ser branco, quero sentir aquele cheirinho de casa limpa, de cuidado, de aconchego. Porque eu não sei fazer de qualquer jeito. Nunca soube. E, ainda assim... tem dias que o peso vem. Vem quando percebo que o café — aquele café que tanto me faz bem — tá acabando… e fico esperando, quase na esperança boba, que alguém perceba e compre. Que alguém se lembre que isso também é amor. Vem quando vejo que, se alguém resolve "ajudar" na faxina, o pó dos móveis fica lá. E eu me pergunto: será qu...

Você já viveu o seu luto? O que ninguém te conta sobre a maternidade e os sonhos não realizados

Imagem
Você já viveu o seu luto? Quase sempre, quando pensamos nessa palavra, nossa mente associa automaticamente à morte, à perda de alguém. Mas a verdade é que o luto vai muito além disso. Ele pode estar presente na nossa vida de maneiras silenciosas, disfarçado de frustração, tristeza, decepção e até de culpa. O luto também mora nos sonhos que não se realizaram, nas expectativas que não se concretizaram, nas versões da vida que planejamos, mas que não aconteceram. E é sobre isso que quero falar hoje, abrindo meu coração de forma muito honesta e real. Eu tenho vivido, de forma silenciosa e dolorosa, o luto por não viver a maternidade que idealizei. E, sim, isso dói mais do que eu imaginava. Desde muito nova, eu carregava dentro de mim uma certeza que nem o tempo, nem as opiniões alheias conseguiram apagar. Eu queria ser mãe. E mais do que isso, eu queria ser aquela mãe presente, disponível, entregue. Sonhava em ser dona de casa, esposa e mãe. Sonhava com uma maternidade inteira, sem precisa...

Como criar filhos emocionalmente fortes quando nem sempre nos sentimos assim?

Imagem
Se tem algo que sempre questionei sobre a minha maternidade foi:  "Será que eu sou, emocionalmente, equilibrada o suficiente para criar um filho emocionalmente saudável?"  A maternidade nos coloca frente a frente com nossas próprias feridas, inseguranças e limitações. E, num mundo que parece cada vez mais acelerado, indiferente e, muitas vezes, cruel... como proteger? Como fortalecer? Como preparar nosso filho para tudo isso, sem sufocar, sem superproteger, mas também sem largar no mundo de qualquer jeito? Como fazê-lo entender que sofrimentos surgem, passam e que eles não podem determinar quem ele é ou será? Como mostrar que palavras cruéis não o definem? Como fazê-lo acreditar que é capaz de se superar e conquistar grandes coisas? Confesso… eu não tenho todas as respostas. Mas tem algo que eu faço, todos os dias, desde que me tornei mãe - aliás, fazia mesmo antes da chegada dele:  eu oro. Peço para que Deus me dê sabedoria, clareza, paciência e força. Peço que eu supere...

O Milagre da Adoção e a Alegria Pela Felicidade do Outro

Imagem
Hoje eu precisei de um sinal. Um só. Um respiro de esperança em meio aos desafios da maternidade, da vida corrida, das incertezas que insistem em rondar o meu coração. E ele veio — não exatamente para mim, mas por meio da alegria de uma amiga. Conheço há tempos uma mulher forte. Daquelas que a gente encontra na caminhada e guarda no coração. Ela estava há mais de seis anos na fila da adoção. Seis. Anos. Imagine o quanto se espera, sonha, se frustra e recomeça nesse tempo. Conversamos muito sobre nossos filhos: eu recebi o meu e ela continuou aguardando, firme, mesmo quando a fé balançava. Há uma semana ela estava se sentindo profundamente angustiada. Estava cansada, exausta emocionalmente. Achava que talvez fosse hora de desistir. Quem sou eu para julgar? Esperei menos tempo (quatro anos e quase três meses) e já quase sucumbi em alguns dias. A dor de quem espera um filho que ainda não pode abraçar é real, é intensa e muitas vezes silenciosa. Mas foi então que algo mudou. Ela sonhou...

Já pensou em desistir? Eu também. E hoje foi um desses dias.

Imagem
Você já sentiu vontade de desistir? De tudo? Do trabalho, da rotina, da pressão silenciosa que insiste em gritar dentro da gente? Eu já. Inúmeras vezes. E hoje foi um desses dias. Acordei com o coração apertado, carregando na mente a lista de falhas do trabalho que ainda precisam ser resolvidas. Aquela sensação de que estou sempre correndo atrás e nunca alcançando nada. A casa me olha com uma bagunça que reflete exatamente como me sinto por dentro. O suporte ao meu filho, que tento oferecer com tanto amor, parece falhar quando estou exausta demais para brincar, conversar, estar por inteira. É como se tudo estivesse fora do controle. E, de certa forma, está. Ser mulher, esposa e mãe é viver equilibrando pratos invisíveis. A gente se cobra demais, se doa demais, e quase nunca se permite parar. Mas hoje, no meio do caos, respirei fundo. Lembrei que, apesar de tudo, hoje é só mais um dia . E amanhã... amanhã pode ser diferente. Esse espaço aqui — meu blog, minha terapia — é também pa...

Quando tudo pesa: o cansaço invisível de ser a mulher que segura o mundo

Imagem
Você também sente que carrega mais do que deveria? Às vezes, o fardo não é só físico — é emocional, silencioso e solitário. E você não está sozinha nisso. Tem dias em que parece que tudo depende de mim. Como se fosse minha responsabilidade manter a casa em ordem, os filhos bem, o casamento em pé e ainda resolver os erros dos outros. Como se o mundo ao meu redor só funcionasse porque eu estou ali, centralizando tudo, controlando tudo — e, no fundo, me desgastando em silêncio. Às vezes, me sinto muito sozinha. Não é solidão de não ter companhia — é aquela solidão interna, de quem está sempre cercada de gente, mas ainda assim sente que só pode contar consigo mesma. É como se, quando algo dá errado, a culpa automaticamente caísse em mim — mesmo quando não foi minha escolha, minha atitude, minha falha. Mas eu assumo. Eu absorvo. Eu conserto. Essa carga emocional que a gente carrega tem nome: sobrecarga mental, culpa materna, perfeccionismo feminino — tudo isso que vai se infiltrando ...

Adoção não é conto de fadas – é necessária, real e, às vezes, dolorosa

Imagem
Quem me conhece sabe que dificilmente falo sobre minha vida pessoal. Mas, vez ou outra, sinto a necessidade de abrir meu coração — não por mim apenas, mas por tantas outras mulheres que talvez estejam passando por algo parecido e precisem se sentir menos sozinhas. Segunda-feira foi um desses dias. Enquanto esperava o ônibus, aproveitei para ler algumas postagens no grupo de apoio à adoção do qual faço parte. Às vezes consigo responder, acolher, ajudar. E, nesse momento de pausa, me veio uma lembrança forte: o início da minha jornada como mãe por adoção. Muita gente ainda imagina que os acolhimentos institucionais funcionam como nos programas de TV, tipo “Chiquititas”, onde as crianças são tratadas com todo carinho, compreensão e segurança emocional. Mas a verdade é bem diferente. Muitas vezes, as crianças são retiradas de suas famílias de origem sem qualquer explicação que faça sentido para elas. E passam os dias tentando entender: "Por que fui tirado da minha casa?" A m...

Quando percebi que o problema era eu

Imagem
Você já se pegou pensando que talvez o problema não sejam os outros… mas você mesma? Essa pergunta me atravessou como uma flecha, em um daqueles dias em que tudo parece fora do lugar. E a resposta, dolorosa e libertadora, foi: sim. Por muito tempo, eu culpei o mundo ao meu redor pelas coisas que não conquistei. Meus pais, colegas de trabalho, meu marido, até mesmo as circunstâncias. Mas aos poucos fui entendendo que a vida muda quando a gente escolhe se responsabilizar por ela. Durante anos, acreditei que minha infância havia me roubado a confiança. Me apeguei às falhas dos meus pais — o jeito duro de criar, os conselhos ríspidos, a dificuldade em acolher minhas emoções. Mas deixei de olhar para os esforços deles, para as limitações que também carregavam. Eles foram criados à base do “engole o choro”, do “não tem motivo para drama”. Eles fizeram o melhor que puderam com o que tinham — e isso é verdade para tanta gente da nossa geração. Mais tarde, culpei colegas de trabalho por meu ...