Quando ele me chamou de mãe

Meu filho gosta de ser livre. Gosta de andar, correr, explorar o mundo com as próprias pernas. E, de certa forma, esse desejo de liberdade me emociona. Mas a liberdade que ele conheceu na infância não era saudável — era perigosa. Era o tipo de liberdade que expunha, machucava, deixava marcas.
Como já compartilhei em outros textos, me tornei mãe por adoção. Meu filho chegou à nossa vida com quase oito anos de idade. Um menino curioso, esperto, cheio de energia... e carregando uma história dura demais para alguém tão pequeno.
Soube, meses depois da chegada dele, que aos quatro anos recém completos, ele já havia sido acolhido. E, antes disso — ou entre esses momentos —, ele atravessava a cidade sozinho. Sim, sozinho. Um serzinho inocente, indefeso, caminhando entre carros, ruas movimentadas, esquinas desconhecidas... exposto a perigos que nenhuma criança deveria enfrentar.
Essa informação me paralisou. Fiquei em choque. Porque, naquele instante, tudo fez ainda mais sentido: o gosto pela liberdade, a desconfiança dos limites, a dificuldade de confiar plenamente no cuidado de um adulto.
Hoje, tento equilibrar o amor pela liberdade que ele tem com a necessidade de protegê-lo. Não é simples. Às vezes, tenho medo de ser dura demais. Outras vezes, me culpo por não ter estabelecido um limite mais claro. Mas sigo tentando. Porque ele precisa sentir que pode ser livre sem estar sozinho. Que correr pode ser bom, desde que haja um lar para voltar, olhos atentos acompanhando o trajeto, braços prontos para acolher.
É um exercício diário. Um aprendizado constante. Um convite à escuta, à paciência e à presença.
Maternar uma criança maior, que já enfrentou o abandono e conheceu o mundo sem rede de apoio, é um desafio imenso. Mas também é uma oportunidade bonita de reconstrução. De mostrar, com gestos e palavras, que ele nunca mais vai precisar caminhar só. Que liberdade e segurança podem andar juntas. E que agora, onde quer que ele vá, terá sempre um coração esperando por ele.
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