Quando ele me chamou de mãe

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Sou mãe de um menino de onze anos. Meu menino. Esperto, lindo e cheio de vida. Mas ele carrega nos ombros uma bagagem que não pertence a nenhuma criança. Uma bagagem que o tempo, a fome, a ausência e a solidão colocaram sobre ele. Ele sabe o que é sentir fome. Sabe o que é não ser cuidado. Sabe o que é andar sozinho por aí, indefeso, tendo apenas a si mesmo. Antes de chegar à minha vida pela adoção, ele viveu capítulos que eu daria tudo para reescrever. E talvez por isso, até hoje, tenha dificuldade de me chamar de “mãe”. Essa palavra parece morar numa prateleira alta demais, inalcançável para ele. Mas na madrugada de sábado para domingo, algo aconteceu. Ele estava com febre. Dormia inquieto, murmurando palavras que vinham de algum lugar entre sonho e delírio. Eu estava ali, ao lado dele, cuidando, sentindo sua respiração quente, atenta a cada movimento. E então… aconteceu. Ele me chamou de Mãe . Foi só uma vez. Baixinho. Quase como se fosse para si mesmo. E naquele instante, o ...

Maternidade

Nunca fui daquelas garotas que, desde cedo, diziam que queriam ser mães. A maternidade não era um sonho que habitava meus pensamentos infantis, nem um plano de vida traçado com detalhes. Mas, por volta dos meus 25 anos, essa possibilidade começou a se infiltrar no meu coração. Naquela época, eu não namorava e nem pensava em casamento, mas já refletia sobre como poderia me tornar mãe caso a vida a dois não acontecesse. Foi então que considerei a adoção.

O tempo passou, o amor aconteceu, e eu me casei. Durante o namoro, mencionei algumas vezes a possibilidade de adotar, e meu marido sempre dizia aceitar a ideia. No entanto, havia aquela frase tão comum e, agora percebo, cheia de equívocos: "Vamos tentar um nosso primeiro e depois pensamos em adoção." Como se um filho precisasse nascer de nós para ser verdadeiramente nosso.

Após quase dois anos de casamento, iniciamos as tentativas para engravidar. Mês após mês, a esperança se renovava e, logo depois, desmoronava. Testes negativos, ansiedade crescente, perguntas sem resposta. Entre consultas, exames e expectativas, a infertilidade se confirmou. Foi um baque. Um luto silencioso pelo filho biológico que não viria. Mas também foi o empurrão que faltava para meu marido abraçar, de vez, a ideia da adoção.

Demos início ao processo. A espera foi longa, uma eternidade embalada por esperas ansiosas, ligações que não vinham, expectativas e medos. O tempo passava, e nós nos preparávamos emocionalmente para receber nosso filho ou filha. Até que, um dia, o telefone tocou. Uma voz do outro lado da linha nos trouxe a notícia que mudaria para sempre nossas vidas: havia um menino esperando por nós. Um meninão de sete anos.

A aproximação teve início, e os medos apareceram. Medo de não ser suficiente. Medo de não conseguir criar um vínculo forte. Medo de errar. Mas tudo parecia caminhar bem... até que ele veio morar conosco. Foi quando o caos se instalou.

A adaptação não foi como nos filmes ou nos livros que romantizam a adoção. Nada de cenas perfeitas, abraços emocionantes em câmera lenta ou amor instantâneo. Houve desafios, crises, choro trancada no banheiro. Houve dúvidas dilacerantes. Mas também houve pequenos avanços, sorrisos roubados, momentos em que o coração se enchia de esperança.

A maternidade é isso: um mergulho no desconhecido, um aprendizado constante, um amor que se constrói. E nós seguimos. Entre erros e acertos, amor e frustração, fomos tecendo nossa história.

Se você está nessa jornada ou pensa em trilhá-la, saiba que é um caminho intenso, desafiador, mas absolutamente transformador. A maternidade chega de muitas formas, e todas elas são válidas. E, no fim das contas, não importa como um filho chega até você. O que realmente faz diferença? O amor que você está disposto a oferecer.


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