Sou mãe de um menino de onze anos. Meu menino. Esperto, lindo e cheio de vida.
Mas ele carrega nos ombros uma bagagem que não pertence a nenhuma criança. Uma bagagem que o tempo, a fome, a ausência e a solidão colocaram sobre ele.
Ele sabe o que é sentir fome.
Sabe o que é não ser cuidado.
Sabe o que é andar sozinho por aí, indefeso, tendo apenas a si mesmo.
Antes de chegar à minha vida pela adoção, ele viveu capítulos que eu daria tudo para reescrever. E talvez por isso, até hoje, tenha dificuldade de me chamar de “mãe”.
Essa palavra parece morar numa prateleira alta demais, inalcançável para ele.
Mas na madrugada de sábado para domingo, algo aconteceu.
Ele estava com febre. Dormia inquieto, murmurando palavras que vinham de algum lugar entre sonho e delírio. Eu estava ali, ao lado dele, cuidando, sentindo sua respiração quente, atenta a cada movimento.
E então… aconteceu.
Ele me chamou de Mãe.
Foi só uma vez.
Baixinho.
Quase como se fosse para si mesmo.
E naquele instante, o tempo parou.
O mundo sumiu.
Senti um silêncio tão intenso que pude ouvir meu próprio coração se partindo e se reconstruindo ao mesmo tempo.
Talvez ele nunca mais diga essa palavra. Talvez demore anos.
Mas aquele momento foi meu. Nosso.
Um presente embrulhado pelo acaso e entregue no exato segundo em que eu mais precisava ser lembrada do porquê estou aqui.
Me senti como na cena de De Repente Uma Família, quando a mãe, depois de acalmar o filho de um pesadelo, ouve dele um “mãe” sonolento antes de voltar a dormir. É doce e dolorido, tudo junto, porque você sabe que aquilo pode não se repetir… mas já é o suficiente para encher o peito de sentido.
Ser mãe, para mim, não é ouvir essa palavra todos os dias.
É construir, com cuidado e paciência, um lar dentro do coração dele.
E se naquela madrugada ele me viu assim, mesmo que por um segundo… então já venci.
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