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Quando ele me chamou de mãe

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Sou mãe de um menino de onze anos. Meu menino. Esperto, lindo e cheio de vida. Mas ele carrega nos ombros uma bagagem que não pertence a nenhuma criança. Uma bagagem que o tempo, a fome, a ausência e a solidão colocaram sobre ele. Ele sabe o que é sentir fome. Sabe o que é não ser cuidado. Sabe o que é andar sozinho por aí, indefeso, tendo apenas a si mesmo. Antes de chegar à minha vida pela adoção, ele viveu capítulos que eu daria tudo para reescrever. E talvez por isso, até hoje, tenha dificuldade de me chamar de “mãe”. Essa palavra parece morar numa prateleira alta demais, inalcançável para ele. Mas na madrugada de sábado para domingo, algo aconteceu. Ele estava com febre. Dormia inquieto, murmurando palavras que vinham de algum lugar entre sonho e delírio. Eu estava ali, ao lado dele, cuidando, sentindo sua respiração quente, atenta a cada movimento. E então… aconteceu. Ele me chamou de Mãe . Foi só uma vez. Baixinho. Quase como se fosse para si mesmo. E naquele instante, o ...

Entre a liberdade e a proteção: maternar quem já andou sozinho demais

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Meu filho gosta de ser livre. Gosta de andar, correr, explorar o mundo com as próprias pernas. E, de certa forma, esse desejo de liberdade me emociona. Mas a liberdade que ele conheceu na infância não era saudável — era perigosa. Era o tipo de liberdade que expunha, machucava, deixava marcas. Como já compartilhei em outros textos, me tornei mãe por adoção. Meu filho chegou à nossa vida com quase oito anos de idade. Um menino curioso, esperto, cheio de energia... e carregando uma história dura demais para alguém tão pequeno. Soube, meses depois da chegada dele, que aos quatro anos recém completos, ele já havia sido acolhido. E, antes disso — ou entre esses momentos —, ele atravessava a cidade sozinho . Sim, sozinho. Um serzinho inocente, indefeso, caminhando entre carros, ruas movimentadas, esquinas desconhecidas... exposto a perigos que nenhuma criança deveria enfrentar. Essa informação me paralisou. Fiquei em choque. Porque, naquele instante, tudo fez ainda mais sentido: o gosto pe...

Adotar uma criança maior: os primeiros momentos que a vida oferece

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Há quem diga que quando adotamos uma criança maior, perdemos o privilégio de viver os “primeiros momentos” de um serzinho bem especial. Que esses marcos — como as primeiras palavras, os primeiros passos ou o primeiro “mãe” — são exclusivos da maternidade biológica ou da adoção de bebês. Mas digo, com todo o amor e com a vivência de quem está nessa estrada há três anos eu digo: isso não é verdade. Meu filho chegou até nós com quase oito anos. Hoje, tem onze. E, ao contrário do que muitos pensam, a nossa vida é repleta de primeiras vezes . Talvez diferentes daquelas que idealizamos, mas não menos emocionantes. Não ouvi ele me chamar de “mãe” pela primeira vez — na verdade, ele nunca me chamou de mãe, e talvez nunca chame. E tudo bem. Porque o vínculo que construímos vai muito além das palavras. Desde que ele chegou já vivemos muitas primeiras vezes. Lembro-me da primeira vez que fomos ao shopping. Ele experimentou chocolates com frutas — algo tão comum para muitos — mas inédito para e...