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Mostrando postagens com o rótulo vínculo afetivo na adoção

Quando ele me chamou de mãe

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Sou mãe de um menino de onze anos. Meu menino. Esperto, lindo e cheio de vida. Mas ele carrega nos ombros uma bagagem que não pertence a nenhuma criança. Uma bagagem que o tempo, a fome, a ausência e a solidão colocaram sobre ele. Ele sabe o que é sentir fome. Sabe o que é não ser cuidado. Sabe o que é andar sozinho por aí, indefeso, tendo apenas a si mesmo. Antes de chegar à minha vida pela adoção, ele viveu capítulos que eu daria tudo para reescrever. E talvez por isso, até hoje, tenha dificuldade de me chamar de “mãe”. Essa palavra parece morar numa prateleira alta demais, inalcançável para ele. Mas na madrugada de sábado para domingo, algo aconteceu. Ele estava com febre. Dormia inquieto, murmurando palavras que vinham de algum lugar entre sonho e delírio. Eu estava ali, ao lado dele, cuidando, sentindo sua respiração quente, atenta a cada movimento. E então… aconteceu. Ele me chamou de Mãe . Foi só uma vez. Baixinho. Quase como se fosse para si mesmo. E naquele instante, o ...

"Tem dois tipos de maus": o dia em que meu filho me fez rir e refletir

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Outro dia, numa daquelas conversas corriqueiras em família, meu filho soltou uma frase que me fez rir e, ao mesmo tempo, pensar: “Mas ela pode falar mal de você. Tem dois tipos de maus.” Ficamos sem entender direito o que ele quis dizer. Olhei para o meu marido e caímos na risada. Foi aquele tipo de riso gostoso que alivia o dia, aproxima, cura. Mesmo sem decifrar a lógica da fala, ela ficou reverberando em mim — porque tinha ali algo de muito verdadeiro: ele nos observa. Ele sente o que vivemos, mesmo sem entender tudo. Aqui em casa, escrever é meu jeito de sobreviver à bagunça emocional dos dias. Sempre peço para meu marido ler os textos que publico no blog. Ele reluta um pouco (acha que vai ser mencionado de um jeito... digamos, comprometedor — risos). Mas não é isso. Nunca foi. Escrever não é sobre expor, é sobre me ouvir. É o meu exercício de autoterapia. Quando escrevo, coloco para fora o que me atravessa. Ganho clareza, vejo caminhos e entendo melhor o que sinto. E compartil...

Adoção e Emoções Reais: O Relato de Junho de 2022 e o Caminho que Escolhemos Seguir

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Quando a adoção nos confronta com nossos limites Sou mulher, esposa e mãe. Em junho de 2022, escrevi um relato que nasceu da dor, da exaustão e da confusão emocional. Naquele momento, eu acreditava que estava desistindo. Tive medo, senti culpa, me senti sozinha. Mas hoje, quase dois anos depois, posso dizer que não desistimos. Estamos juntos: eu, meu marido e nosso filho. E é sobre esse processo — real, difícil e transformador — que venho falar. O início: alegria, expectativas e um susto inesperado Quando recebemos a ligação com a notícia de que seríamos pais, fomos tomados por uma emoção indescritível e muito medo. Chegou o nosso filho. Um garoto doce, gentil e carinhoso. Mas como em todo processo de adaptação, surgiram desafios. Um episódio de explosão emocional, na primeira semana conosco — uma mordida, fruto de frustração — nos assustou. Até então, achávamos que estávamos preparados. Mas percebemos que a equipe técnica omitiu informações (crises emocionais, um laudo falando sob...