Quando ele me chamou de mãe

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Sou mãe de um menino de onze anos. Meu menino. Esperto, lindo e cheio de vida. Mas ele carrega nos ombros uma bagagem que não pertence a nenhuma criança. Uma bagagem que o tempo, a fome, a ausência e a solidão colocaram sobre ele. Ele sabe o que é sentir fome. Sabe o que é não ser cuidado. Sabe o que é andar sozinho por aí, indefeso, tendo apenas a si mesmo. Antes de chegar à minha vida pela adoção, ele viveu capítulos que eu daria tudo para reescrever. E talvez por isso, até hoje, tenha dificuldade de me chamar de “mãe”. Essa palavra parece morar numa prateleira alta demais, inalcançável para ele. Mas na madrugada de sábado para domingo, algo aconteceu. Ele estava com febre. Dormia inquieto, murmurando palavras que vinham de algum lugar entre sonho e delírio. Eu estava ali, ao lado dele, cuidando, sentindo sua respiração quente, atenta a cada movimento. E então… aconteceu. Ele me chamou de Mãe . Foi só uma vez. Baixinho. Quase como se fosse para si mesmo. E naquele instante, o ...

A Escrita Como Terapia: Uma Voz Sem Rosto, Mas Com Alma

A Escrita Como Terapia

Sou uma mulher de 42 anos, mãe, esposa e, acima de tudo, alguém que sente, que vive e que busca sentido em meio ao caos do cotidiano. Aqui não tenho nome, mas poderei ser Ana, Maria, Joana... Há tempos carrego medos e angústias que, como sombras, insistem em me acompanhar. Mas, em vez de fugir, escolhi enfrentá-los de uma forma que me parecia natural: escrevendo.

A escrita tem sido minha terapia silenciosa, um refúgio seguro onde posso colocar para fora tudo o que me inquieta sem medo de julgamentos ou olhares curiosos. Contudo, ao decidir compartilhar minhas experiências, fiz uma escolha consciente: permanecer sem rosto, sem nome, mas jamais sem verdade.

Pode parecer contraditório compartilhar histórias sem se expor por completo, mas há algo de profundamente libertador nisso. Escrever sem a necessidade de uma identidade pública me permite ser ainda mais honesta, mais crua e, ao mesmo tempo, mais próxima de quem lê. Porque, no fim das contas, o que importa não é quem escreve, mas sim a identificação que surge nas palavras, o reconhecimento de que não estamos sós em nossas dores e alegrias.

Vivemos em uma era de hiperexposição, onde parece que só existe quem aparece. Mas será que a essência precisa de um rosto para ser real? Minhas palavras carregam minha essência, e minha história é tão verdadeira quanto qualquer outra, ainda que eu escolha permanecer nos bastidores.

Se você também sente que precisa falar, mas teme o julgamento, saiba que existem muitas formas de se expressar. Escrever tem sido a minha forma de me reencontrar, de entender meus próprios sentimentos e, quem sabe, ajudar alguém que, do outro lado da tela, sente o mesmo.

Aqui, neste espaço, sou eu, sem máscaras, sem filtros, apenas palavras que nascem da minha alma. E isso basta. Porque, no fim das contas, não importa o rosto por trás do texto, mas sim as conexões que ele cria.

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