E quando a gente dá tanto… e recebe tão pouco?

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Me diz, você já se sentiu assim? Como se tudo que você faz nunca fosse o bastante… ou, pior, como se ninguém percebesse o quanto você se doa? Eu me sinto assim. Mais vezes do que gostaria de admitir. E, sempre acabo me sentindo sozinha. Se eu vou pra cozinha, faço questão de caprichar. Escolho com cuidado os ingredientes, penso no que cada um gosta, tempero com amor, porque, pra mim, cuidar é uma forma de amar. Se limpo a casa, não é só pra ficar apresentável. Eu quero ver o branco voltar a ser branco, quero sentir aquele cheirinho de casa limpa, de cuidado, de aconchego. Porque eu não sei fazer de qualquer jeito. Nunca soube. E, ainda assim... tem dias que o peso vem. Vem quando percebo que o café — aquele café que tanto me faz bem — tá acabando… e fico esperando, quase na esperança boba, que alguém perceba e compre. Que alguém se lembre que isso também é amor. Vem quando vejo que, se alguém resolve "ajudar" na faxina, o pó dos móveis fica lá. E eu me pergunto: será qu...

Você já viveu o seu luto? O que ninguém te conta sobre a maternidade e os sonhos não realizados

Luto

Você já viveu o seu luto? Quase sempre, quando pensamos nessa palavra, nossa mente associa automaticamente à morte, à perda de alguém. Mas a verdade é que o luto vai muito além disso. Ele pode estar presente na nossa vida de maneiras silenciosas, disfarçado de frustração, tristeza, decepção e até de culpa. O luto também mora nos sonhos que não se realizaram, nas expectativas que não se concretizaram, nas versões da vida que planejamos, mas que não aconteceram. E é sobre isso que quero falar hoje, abrindo meu coração de forma muito honesta e real.

Eu tenho vivido, de forma silenciosa e dolorosa, o luto por não viver a maternidade que idealizei. E, sim, isso dói mais do que eu imaginava. Desde muito nova, eu carregava dentro de mim uma certeza que nem o tempo, nem as opiniões alheias conseguiram apagar. Eu queria ser mãe. E mais do que isso, eu queria ser aquela mãe presente, disponível, entregue. Sonhava em ser dona de casa, esposa e mãe. Sonhava com uma maternidade inteira, sem precisar dividir meu tempo, minha atenção, minha energia com o mercado de trabalho, com as cobranças externas e com essa vida tão acelerada que vivemos.

Por um tempo, acreditei que poderia organizar minha vida para isso. Planejei, me preparei, tentei. Mas nem tudo está sob nosso controle, não é? E vi, pouco a pouco, meus planos escaparem pelas minhas mãos como areia fina. A chegada do meu filho, que aconteceu através da adoção, foi o momento mais feliz e confuso da minha vida, mas também trouxe à tona um sentimento que eu não sabia nomear. E esse sentimento, hoje eu sei, é luto.

Vivo lutando contra a culpa de não estar presente como eu gostaria. Trabalho fora, passo muitas horas longe de casa e, quando volto, o cansaço pesa no corpo, mas o que pesa ainda mais é a culpa que insiste em me dizer que eu não estou sendo a mãe que meu filho merece. Essa culpa não é racional, eu sei disso. Mas ela existe, e existe de um jeito que machuca. E por mais que eu me esforce, por mais que eu tente me lembrar que estou dando o meu melhor, ela continua ali, me lembrando de uma maternidade que eu sonhei e que não consegui viver.

Com o apoio da terapia, tenho aprendido que esse processo é, sim, um luto. Um luto por uma vida que não se concretizou. E eu te pergunto, mulher, quantas vezes você já viveu o seu luto sem nem perceber? Quantas vezes precisou engolir a dor de um sonho não realizado? Talvez você também tenha vivido o luto pela viagem que não aconteceu, pelo emprego que não veio, pelo relacionamento que acabou, pelo filho que não chegou, seja ele biológico ou adotivo.

O luto não é só sobre morte. É sobre toda vez que a vida te obriga a abrir mão de algo que você desejou muito. E não viver esse luto, não olhar para ele de frente, só faz a dor crescer, se transformar em culpa, em cansaço, em exaustão emocional. Por isso, se eu puder te dar um conselho, é: não ignore o que você sente. Não finja que não dói. Não se cobre ser forte o tempo todo. Viva o seu luto. Se permita sentir, se permita acolher a sua dor. E, se for preciso, busque ajuda. Terapia não é fraqueza, é cuidado. É amor por você mesma.

Eu sigo nesse processo, que não é fácil, nem rápido, nem linear. Mas sigo na esperança de, aos poucos, conseguir transformar essa dor em aceitação. Conseguir olhar para minha maternidade real, não como uma versão fracassada do que eu sonhei, mas como a vida possível. A vida que, apesar de tudo, ainda é cheia de amor, de cuidado, de construção de memórias e de presença, mesmo que essa presença nem sempre seja da forma como eu idealizei.


Se você se sente assim também, quero que saiba que você não está sozinha. Aqui é um espaço seguro, onde podemos ser quem somos, com nossas dores, nossos lutos, nossas alegrias e nossas reconstruções. Que você se permita viver o seu luto, para depois, com mais leveza, viver também a sua própria forma de recomeçar.

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