E quando a gente dá tanto… e recebe tão pouco?

Hoje é o Dia Nacional da Adoção. Desde que essa data entrou de verdade na minha vida, ela tem outro peso. Um peso bonito, cheio de significado, mas também cheio de dor — daquelas dores que não se resolvem com analgésico nem com frases prontas. Desde janeiro de 2022, sou mãe de um garotinho que chegou até mim através da adoção. Desde então, minha vida mudou por completo. Eu mudei por completo.
Os desafios ainda existem. São diferentes dos do começo, é verdade, mas continuam ali, me lembrando todos os dias que a maternidade adotiva é feita de amor, mas também de paciência, reconstrução e cuidado contínuo.
Dói saber que o abandono e a separação deixaram marcas tão profundas no meu filho. E dói mais ainda perceber que ele, muitas vezes, parece não acreditar no amor que tenho por ele. Me pergunta, inúmeras vezes, como pode ter certeza de que eu o amo. Quer provas. Quer garantias. Quer que eu repita, que eu reafirme, que eu demonstre de novo e de novo que estou aqui e não vou embora.
E eu faço isso. Faço com palavras, com abraços, com presença. Faço com um prato de comida, com a história antes de dormir, com a roupa passada e a preocupação na mochila da escola. Mas confesso: às vezes, me sinto exausta. Não por ele, mas pela ferida invisível que ele carrega e que nem o meu amor consegue apagar por completo.
Oro para que as dificuldades escolares se tornem só uma fase. Para que a insegurança que ele sente se dissolva devagar, como neblina ao sol. Para que ele se sinta inteiro, seguro, pertencente. Para que a infância dele não seja definida apenas pelo que faltou, mas pelo que construímos desde o nosso encontro.
Adoção não é caridade. Nunca foi. É uma forma legítima de construir uma família. Uma escolha — às vezes racional, às vezes feita só com o coração, mas sempre carregada de coragem. E, acima de tudo, uma resposta ao amor que insiste em existir, mesmo nas histórias quebradas.
Hoje eu quero te perguntar: você já olhou de verdade para o tema da adoção? Já procurou escutar histórias como a minha, sem julgamento, sem rótulos, sem aquela ideia de que quem adota é “especial” ou “iluminado”? Porque a verdade é que a gente não é santa. A gente é mãe. Com medo, com erros, com dúvidas. Mas com uma vontade imensa de amar certo.
Se você está lendo isso, saiba que não está sozinha. Talvez você também tenha feridas que não se veem. Talvez esteja tentando amar alguém que, como meu filho, ainda não aprendeu a confiar no amor. Ou talvez só esteja cansada, tentando dar conta de tudo, como tantas de nós.
Seja qual for sua história, sinta-se acolhida aqui. Meu blog é meu desabafo, minha cura, mas também um espaço onde quero que outras mulheres se sintam abraçadas. Porque no fim, é isso que a gente mais precisa: de mãos que se estendam, de palavras que acolham, de olhares que não julguem.
E de tempo. Para curar. Para construir. Para amar de verdade.
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