Quando ele me chamou de mãe

Mais uma vez, sou eu quem cede. Quem respira fundo, guarda pra si e tenta não desmoronar. Não porque gosto de evitar conversas, mas porque simplesmente não temos espaço pra isso. A rotina não permite. A casa está cheia de demandas, e mais uma vez deixamos o que é nosso de lado. Eu estou magoada. Estou chateada. E, sinceramente, cansada de sentir que me anulo todos os dias. Conheço todos os meus defeitos. Vivo tentando me podar, controlar o que digo, como digo, como ajo, pra não te deixar incomodado. Evito até contar tudo o que me acontece no dia a dia, porque sei que determinadas interações minhas te incomodam. O curioso é que, quando é você quem compartilha, eu escuto, acolho, não reajo com incômodo. Não me sinto no direito de te podar. E talvez seja isso o que mais me dói: a sensação de que só um lado está tentando não incomodar.
Não estou feliz. Já falei antes e continuo dizendo. Você coopera, ajuda com a casa, com algumas coisas do cotidiano, mas isso é o básico. Porque eu não moro sozinha. O que me fere está muito além disso. É a sua ausência nas áreas que, pra mim, sempre foram fundamentais: o apoio financeiro, o companheirismo na maternidade. Eu não consegui viver as fases difíceis da adaptação de nosso filho de forma saudável, e você sabe por quê. Eu não estou vivendo a maternidade como eu sonhava, e você também sabe por quê. Nem eu mesma estou conseguindo ser. Eu fui me diminuindo aos poucos, me adaptando a papéis que nunca foram meus, tentando caber em lugares que me exigem demais e me devolvem de menos. Me sinto desconectada de mim, da vida, e mesmo tentando voltar para mim, depois do que vivi, só me sinto mais fracassada.
Resolvi preparar as marmitas com carinho. Acordei cedo, mesmo cansada, tentando facilitar a sua rotina, pensando em você. E quando tudo ficou pronto, o que eu recebi em troca foi um comportamento que eu achei que não veria mais. Um olhar que me feriu. E tudo isso porque você se apegou a um detalhe dito por outra pessoa, ignorando todo o resto. Essa pessoa orienta, mas não é dona da nossa relação, muito menos das nossas decisões como pais. O que eu senti, de verdade, foi ciúmes. Um ciúmes que apareceu lá no início, sem sentido, e que agora volta como se houvesse ali uma ameaça ao seu espaço. E não havia. Apenas uma necessidade legítima de carinho e acolhimento. E se isso não vem de você, vem de mim. E virá, até o momento em que eu sentir que já não é mais preciso. Porque eu não vou repetir com meu filho o que os adultos da minha infância fizeram comigo. Eu sei bem no que isso resulta. E se você esquece muitas das coisas que falo, é curioso como lembra exatamente daquilo que te incomoda.
Eu me propus a estar com você. A estudar ao seu lado, te ajudar a focar, mesmo cansada, mesmo exausta. Estava ali, disponível, querendo ajudar, querendo estar. E a reação que recebi acabou comigo. Me destruiu. Estou com o coração em pedaços.
Eu sei que tenho minhas dificuldades. O toque, o cansaço constante, o peso das responsabilidades. E sei que tudo isso afeta você também. Mas eu estou tentando. De verdade. Só não sei se tenho forças para consertar sozinha tudo o que está fora do lugar. Porque, por mais que eu tente... às vezes só me sinto desmoronando por dentro.
Se você leu até aqui e se sentiu abraçada por essas palavras, saiba: você não está sozinha. Existe muita força em quem tenta, mesmo cansada. Existe dignidade em quem não desiste de si mesma, mesmo quando tudo ao redor parece ruir.
🕊️ Você também está tentando voltar para si? Me conta aqui nos comentários ou compartilha esse texto com uma amiga que precisa ouvir isso hoje. Vamos reconstruir, uma palavra de cada vez.
Comentários
Postar um comentário