Quando ele me chamou de mãe

Imagem
Sou mãe de um menino de onze anos. Meu menino. Esperto, lindo e cheio de vida. Mas ele carrega nos ombros uma bagagem que não pertence a nenhuma criança. Uma bagagem que o tempo, a fome, a ausência e a solidão colocaram sobre ele. Ele sabe o que é sentir fome. Sabe o que é não ser cuidado. Sabe o que é andar sozinho por aí, indefeso, tendo apenas a si mesmo. Antes de chegar à minha vida pela adoção, ele viveu capítulos que eu daria tudo para reescrever. E talvez por isso, até hoje, tenha dificuldade de me chamar de “mãe”. Essa palavra parece morar numa prateleira alta demais, inalcançável para ele. Mas na madrugada de sábado para domingo, algo aconteceu. Ele estava com febre. Dormia inquieto, murmurando palavras que vinham de algum lugar entre sonho e delírio. Eu estava ali, ao lado dele, cuidando, sentindo sua respiração quente, atenta a cada movimento. E então… aconteceu. Ele me chamou de Mãe . Foi só uma vez. Baixinho. Quase como se fosse para si mesmo. E naquele instante, o ...

Quando a gente para de dançar: sobre se libertar dos rótulos e reencontrar a própria alegria

Perdida

Você já sentiu que, em algum ponto da vida, deixou de ser quem realmente é? Que se perdeu aos poucos, sem perceber, tentando se encaixar em padrões que nem te pertenciam? Às vezes, sinto que passei tanto tempo sendo o que esperavam de mim, que esqueci como era simplesmente ser. Desde pequena, sempre fui mais séria do que as outras crianças da minha idade. Enquanto a maioria estava rindo alto ou correndo por aí, eu era mais observadora, mais quieta — e isso fez com que muitas pessoas criassem uma imagem sobre mim que nem sempre correspondia ao que eu realmente sentia.

Com o tempo, esses rótulos foram se acumulando: a madura, a centrada, a que não se diverte, a que não brinca. E mesmo gostando de dançar, de cantar, de estar com crianças e me permitir rir, fui guardando essas vontades num lugar escondido dentro de mim. É como se, inconscientemente, eu tivesse começado a acreditar que a minha alegria era inadequada. Que minha espontaneidade era estranha. Que eu precisava me conter.

Hoje, já adulta, casada e mãe, percebo o quanto isso me marcou. Em vários momentos do meu dia, tenho vontade de dançar, de cantar alto com meu filho, de rir até a barriga doer. Mas aí algo trava. Uma parte minha congela. E, mesmo sabendo que aquela alegria é verdadeira e faz parte de mim, não consigo me entregar. É como se eu estivesse presa do lado de dentro, vendo a vida passar pela janela.

É doloroso perceber o quanto a gente se reprime por medo do olhar do outro. O quanto deixamos de viver certas emoções porque, em algum momento, disseram que não combinavam com a nossa imagem. Mas estou cansada disso. Cansada de me esconder de mim mesma. E mais ainda, cansada de ver tantas mulheres vivendo a mesma coisa, acreditando que precisam ser duras, fortes o tempo todo, sem espaço para a leveza.

Não quero mais viver pela metade. Quero reaprender a me permitir. A acolher as partes de mim que foram silenciadas, que foram colocadas de lado para que eu parecesse “correta” o suficiente. Quero ensinar ao meu filho, com meu exemplo, que a alegria não precisa ser escondida. Que dançar sem motivo é bonito. Que rir alto é saudável. Que cantar desafinado é uma forma de liberdade.


Esse blog é minha forma de respirar. É onde coloco para fora o que pesa por dentro. E se você se identifica com o que escrevo, se em algum momento da sua vida também sentiu que travou, que deixou de se permitir, eu te convido a voltar para si. Devagar, no seu tempo. Talvez começando com uma música no fone de ouvido, um passinho tímido no quarto, um sorriso em frente ao espelho. A gente não precisa ser perfeita. A gente só precisa ser de verdade.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Do Medo à Liberdade: Uma Jornada de Autoconhecimento e Superação

A Escrita Como Terapia: Uma Voz Sem Rosto, Mas Com Alma

Adoção e Construção de Vínculos: O Dia em Que Vi Meu Filho Pela Primeira Vez