Quando ele me chamou de mãe

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Sou mãe de um menino de onze anos. Meu menino. Esperto, lindo e cheio de vida. Mas ele carrega nos ombros uma bagagem que não pertence a nenhuma criança. Uma bagagem que o tempo, a fome, a ausência e a solidão colocaram sobre ele. Ele sabe o que é sentir fome. Sabe o que é não ser cuidado. Sabe o que é andar sozinho por aí, indefeso, tendo apenas a si mesmo. Antes de chegar à minha vida pela adoção, ele viveu capítulos que eu daria tudo para reescrever. E talvez por isso, até hoje, tenha dificuldade de me chamar de “mãe”. Essa palavra parece morar numa prateleira alta demais, inalcançável para ele. Mas na madrugada de sábado para domingo, algo aconteceu. Ele estava com febre. Dormia inquieto, murmurando palavras que vinham de algum lugar entre sonho e delírio. Eu estava ali, ao lado dele, cuidando, sentindo sua respiração quente, atenta a cada movimento. E então… aconteceu. Ele me chamou de Mãe . Foi só uma vez. Baixinho. Quase como se fosse para si mesmo. E naquele instante, o ...

O Amor Também Se Constrói: Reflexões de Uma Mãe por Adoção

O amor se constrói

Ser mulher já é, por si só, um universo de transformações. Quando essa mulher se torna mãe, seja pela gestação biológica ou pela adoção, ela é atravessada por sentimentos que muitas vezes não cabem em palavras. Hoje, quero falar especialmente com você, mulher que se tornou mãe e não sentiu aquele “amor mágico” que tanto dizem por aí. Eu entendo você.


Eu sou mãe por adoção. Esperei pelo meu filho por quatro anos e três meses. E durante essa longa espera, entre expectativas e incertezas, procurei ser realista. Nunca romantizei o processo e, no fundo, sabia que poderia não sentir amor de imediato pela criança que chegaria para fazer parte da minha vida.


E foi exatamente isso que aconteceu.


Quando vi meu filho pela primeira vez, não senti um arrebatamento. Não fui tomada por um amor instantâneo. O que senti foi medo. Uma aflição quase silenciosa. Me perguntei, com um nó na garganta, se eu daria conta. Se um dia eu o amaria de verdade.


Nos primeiros tempos da nossa convivência, meu filho — tão pequeno e já tão sábio — me perguntou algumas vezes se eu o amava. Eu respondia com toda a honestidade e cuidado que cabia naquele momento:

"Filho, o amor é uma construção. A gente vai aprendendo a se amar."


Essa frase passou a ser o pilar da nossa relação.


Hoje, o nosso vínculo segue sendo construído dia após dia. Não é um conto de fadas. Mas é real. É feito de afeto, de tropeços, de descobertas e superações. E, principalmente, de presença. Porque o amor, quando é verdadeiro, não precisa ser instantâneo. Ele pode — e muitas vezes precisa — ser aprendido.


Se você é mãe — por adoção ou não — e não sente esse amor que todos parecem sentir desde o primeiro instante, saiba: você não está sozinha. A maternidade não é uniforme. Não há um roteiro único, nem um cronômetro emocional. E tudo bem se o seu caminho for diferente.


Não tenha medo de buscar ajuda. Conversar com profissionais, com outras mães, com pessoas que possam acolher sem julgar, faz toda a diferença. O amor pode se revelar de formas inesperadas, mas ele é possível. Com apoio, com tempo e com entrega, uma linda relação pode nascer e florescer.


Eu não me vejo mais sem meu filho. Ele é parte do que sou. E a nossa história, feita de construção e coragem, é também uma declaração de que o amor pode — e deve — ser vivido de forma verdadeira, do jeitinho que cada mulher puder oferecer.


Com carinho,

Uma mãe real.

Uma mulher como você.


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