E quando a gente dá tanto… e recebe tão pouco?

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Me diz, você já se sentiu assim? Como se tudo que você faz nunca fosse o bastante… ou, pior, como se ninguém percebesse o quanto você se doa? Eu me sinto assim. Mais vezes do que gostaria de admitir. E, sempre acabo me sentindo sozinha. Se eu vou pra cozinha, faço questão de caprichar. Escolho com cuidado os ingredientes, penso no que cada um gosta, tempero com amor, porque, pra mim, cuidar é uma forma de amar. Se limpo a casa, não é só pra ficar apresentável. Eu quero ver o branco voltar a ser branco, quero sentir aquele cheirinho de casa limpa, de cuidado, de aconchego. Porque eu não sei fazer de qualquer jeito. Nunca soube. E, ainda assim... tem dias que o peso vem. Vem quando percebo que o café — aquele café que tanto me faz bem — tá acabando… e fico esperando, quase na esperança boba, que alguém perceba e compre. Que alguém se lembre que isso também é amor. Vem quando vejo que, se alguém resolve "ajudar" na faxina, o pó dos móveis fica lá. E eu me pergunto: será qu...

A mudança de sobrenome na adoção: como foi viver esse processo com meu filho

Sobrenome

A maternidade me encontrou através de um caminho especial: a adoção. Seguindo todos os trâmites legais, construímos juntos nossa convivência, nosso amor e nossa família. Um dos momentos mais simbólicos do processo de adoção é quando a criança recebe sua nova certidão de nascimento, já com o sobrenome da nova família. Parece um marco alegre — e para muitos é. Mas, para o meu filho, a realidade foi bem diferente.


A notícia da mudança de sobrenome

Quando comecei a explicar ao meu filho que, ao final do processo, ele teria seu sobrenome modificado, me deparei com algo que eu não esperava: confusão e medo.
Ele deixaria de ter o sobrenome da família de origem para carregar o meu e o do meu marido. Embora para nós isso significasse pertencimento e continuidade, para ele era como apagar parte de sua história.

Todas as vezes que eu tentava retomar o assunto e explicar a importância dessa mudança, ele se agitava, mudava de assunto e mostrava desconforto. A sua reação me fez perceber que, naquele momento, insistir poderia gerar ainda mais ansiedade e dor.


A importância do acolhimento psicológico

Com a proximidade da finalização do nosso processo de adoção, entendi que precisava de ajuda profissional. Pedi então o apoio da psicóloga que o acompanhava, para que, de uma forma sensível e respeitosa, ela pudesse trabalhar esse tema com ele.

A psicóloga conversou, acolheu seus sentimentos e, com muito cuidado, explicou o significado da mudança de sobrenome. Aos poucos, ele entendeu e aceitou a alteração. Mas, diferente do que muitos imaginam, o dia da nova certidão não foi um dia de festa.


Vivendo o luto pela família de origem

Meu filho não deu pulos de alegria. Ele não celebrou. Ele viveu o luto.
Na cabecinha dele, a mudança de sobrenome simbolizava um desligamento oficial daqueles que ele conhecia como família. Mesmo entendendo que agora fazia parte de outra história, havia um medo: será que isso dificultaria reencontrar seus irmãos no futuro?

A adoção é amor, mas também é perda. E respeitar o tempo e o sentimento da criança é essencial para que ela consiga construir sua nova história sem apagar suas raízes.


O que aprendi com essa experiência

Essa vivência me ensinou que, na adoção, cada criança é única e carrega sua própria história, suas dores e seus medos. O que pode ser motivo de comemoração para uns, pode ser motivo de tristeza e luto para outros.
Por isso, precisamos estar atentos, respeitar cada passo e, acima de tudo, acolher — sempre com amor e paciência.


Se você está passando por um processo de adoção ou conhece alguém que esteja, lembre-se: não existe manual perfeito. Existe o coração disposto a amar e a ouvir.

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