Quando ele me chamou de mãe

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Sou mãe de um menino de onze anos. Meu menino. Esperto, lindo e cheio de vida. Mas ele carrega nos ombros uma bagagem que não pertence a nenhuma criança. Uma bagagem que o tempo, a fome, a ausência e a solidão colocaram sobre ele. Ele sabe o que é sentir fome. Sabe o que é não ser cuidado. Sabe o que é andar sozinho por aí, indefeso, tendo apenas a si mesmo. Antes de chegar à minha vida pela adoção, ele viveu capítulos que eu daria tudo para reescrever. E talvez por isso, até hoje, tenha dificuldade de me chamar de “mãe”. Essa palavra parece morar numa prateleira alta demais, inalcançável para ele. Mas na madrugada de sábado para domingo, algo aconteceu. Ele estava com febre. Dormia inquieto, murmurando palavras que vinham de algum lugar entre sonho e delírio. Eu estava ali, ao lado dele, cuidando, sentindo sua respiração quente, atenta a cada movimento. E então… aconteceu. Ele me chamou de Mãe . Foi só uma vez. Baixinho. Quase como se fosse para si mesmo. E naquele instante, o ...

A Infância Não Fica na Infância


Infância

Nasci em uma tarde bonita de 1982, sob o signo de Capricórnio, carregando em mim a esperança e as expectativas de um futuro que nem meus pais sabiam construir. Não fui desejada e depois planejada, como algumas histórias românticas contam. Fui, ao contrário, a cola que uniu duas pessoas imaturas, ainda presas às próprias dores não tratadas.

Acredito que essa é uma realidade comum a muitos de nós. Crescemos em lares onde os adultos carregam as marcas de infâncias negligenciadas, traumas nunca revisitados e padrões herdados que se repetem como um ciclo interminável. Meus pais, como tantos outros, desconheciam o peso que suas próprias histórias teriam sobre mim e meus irmãos. Afinal, não se pode curar aquilo que sequer se reconhece como ferida.

Já é dito que "a infância não fica na infância", e essa é uma verdade irrefutável. Crescemos carregando os ecos das palavras que ouvimos, das ausências que sentimos, das inseguranças que nos foram passadas. Nossa forma de amar, de maternar, de nos relacionarmos com o mundo tem profundas raízes nesse passado. A boa notícia é que, ao reconhecermos isso, podemos tentar fazer diferente.

Como mãe, me pego refletindo sobre quais padrões quero quebrar. Como escritora, trago essas reflexões para o papel, na esperança de que outras pessoas possam enxergar suas próprias histórias através das minhas palavras. Como mulher, compreendo que minha própria cura é um processo contínuo, que exige coragem para olhar para trás sem medo, mas também sem ficar presa ao que passou.

Não podemos mudar o que foi, mas podemos transformar o que será. Cada dia é uma oportunidade de ressignificar a nossa própria história, de romper ciclos, de construir laços mais saudáveis e, principalmente, de oferecer às próximas gerações uma infância que não precise ser curada no futuro.


Se você, assim como eu, sente o peso da história que herdou, saiba que não está sozinha. Cada jornada é única, mas quando compartilhamos nossas experiências, encontramos conforto e compreensão. Eu adoraria saber sua opinião: você também percebe os reflexos da infância em sua vida adulta? Que padrões você tenta quebrar para construir um futuro mais leve para si e para sua família? Deixe seu comentário, vamos continuar essa conversa juntas.


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