Quando ele me chamou de mãe

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Sou mãe de um menino de onze anos. Meu menino. Esperto, lindo e cheio de vida. Mas ele carrega nos ombros uma bagagem que não pertence a nenhuma criança. Uma bagagem que o tempo, a fome, a ausência e a solidão colocaram sobre ele. Ele sabe o que é sentir fome. Sabe o que é não ser cuidado. Sabe o que é andar sozinho por aí, indefeso, tendo apenas a si mesmo. Antes de chegar à minha vida pela adoção, ele viveu capítulos que eu daria tudo para reescrever. E talvez por isso, até hoje, tenha dificuldade de me chamar de “mãe”. Essa palavra parece morar numa prateleira alta demais, inalcançável para ele. Mas na madrugada de sábado para domingo, algo aconteceu. Ele estava com febre. Dormia inquieto, murmurando palavras que vinham de algum lugar entre sonho e delírio. Eu estava ali, ao lado dele, cuidando, sentindo sua respiração quente, atenta a cada movimento. E então… aconteceu. Ele me chamou de Mãe . Foi só uma vez. Baixinho. Quase como se fosse para si mesmo. E naquele instante, o ...

A Carga Invisível da Mulher: Quando Ser Mãe e Esposa Vira um Peso Silencioso

Carga Invisivel

Tem dias em que a gente acorda já cansada. O corpo até saiu da cama, mas a cabeça continua carregando tudo o que ficou pendente de ontem, da semana passada, de meses atrás. E, às vezes, nem dá pra explicar o porquê desse peso. Mas ele está lá.

Se você é mulher, mãe, esposa — ou tudo isso ao mesmo tempo — talvez saiba bem do que estou falando. Essa carga invisível que acompanha tantas de nós não tem hora para aparecer. Ela mora na cabeça e no coração.

É você quem lembra da vacina do filho. Do aniversário da sogra. Da reunião da escola. É você quem compra o presente do colega de sala, organiza a rotina da casa, marca a consulta do marido e ainda tenta — entre um caos e outro — não se esquecer de si mesma.

Mas a verdade é que, muitas vezes, você se esquece.


Ninguém vê, mas pesa

O mais dolorido é que esse esforço quase nunca é notado. Ninguém te aplaude por lembrar que acabou o sabão em pó ou por ter colocado a escova de dentes nova na mala do filho antes da viagem da escola. São detalhes. Mas são os seus detalhes. Os que você carrega em silêncio.

E quando algo escapa? Vem a culpa. Aquela culpa que só as mães entendem. Por não conseguir buscar o filho na escola. Por não conseguir ajudar com o dever. Por não ter tempo de comprar o presente de aniversário ou esquecer de responder a professora no grupo da escola.

A gente se cobra demais. E pior: às vezes se culpa por não dar conta de um fardo que, na verdade, nunca deveria ter sido carregado sozinha.


Você não é exagerada. Você está sobrecarregada.

Você já tentou explicar esse cansaço e recebeu como resposta um “mas por que você está tão estressada?” ou um “é só pedir ajuda”? Como se a ajuda precisasse ser pedida, desenhada, explicada. Como se fosse responsabilidade sua ensinar o outro a enxergar o óbvio.

Mas deixa eu te dizer uma coisa com carinho:
Você não está errada por se sentir cansada. Está cansada porque tudo isso é realmente demais para uma pessoa só.

E, mais importante ainda: você não está sozinha.


Você merece cuidado também

Entre tantas funções, obrigações e entregas, você precisa — e merece — um espaço de pausa. Um lugar onde possa respirar sem culpa, sem medo de estar falhando. Um tempo para lembrar que antes de ser mãe, esposa, profissional... você é mulher. É gente. É vida pulsando.

Você tem o direito de descansar. De não dar conta de tudo. De pedir ajuda — ou simplesmente se calar por um instante. Você tem o direito de ser cuidada também.


Como começar a aliviar o peso?

Não existe uma solução pronta, mas existem caminhos:

✨ Converse com quem caminha ao seu lado. Nem sempre o outro entende, mas às vezes só precisa ser chamado para enxergar.

✨ Divida, de verdade, as responsabilidades. Delegar não é mandar fazer. É confiar, dividir, somar.

✨ Abrace suas imperfeições. Você não é menos mãe porque não deu conta de tudo.

✨ Permita-se descansar — mesmo que seja só por alguns minutos com a porta fechada e um café na mão.

✨ Crie espaços de escuta. Escreva, fale, leia… encontre lugares (como este aqui) onde você possa existir sem precisar se explicar.


Este blog é um desses espaços. Um lugar onde você pode se sentir acolhida, compreendida e menos sozinha. Porque, sim, a vida pode ser exaustiva. Mas você não precisa enfrentá-la sem apoio.

Eu vejo você. Eu entendo você.
E, por aqui, você é sempre bem-vinda — com toda sua bagunça, sua força e sua humanidade.

Com carinho,
Uma mulher como você.

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