E quando a gente dá tanto… e recebe tão pouco?

A maternidade me alcançou de forma diferente. Em 2022, meu filho chegou até mim com sete anos. Não veio da minha barriga, mas nasceu no meu coração — e no momento em que ele entrou em casa, comecei a descobrir uma nova versão de mim mesma: mãe.
Mas, ao contrário do que romantizam por aí, o amor na adoção não é automático. Ele é possível, profundo, intenso — mas é construído, passo a passo, dia após dia. Especialmente quando se trata de criar laços emocionais com uma criança que já traz suas próprias marcas, histórias e modos de sentir o mundo.
Nos primeiros momentos da nossa convivência, percebi algo que me deixou inquieta: meu filho parecia desconfortável com o Dia das Mães, Dia dos Pais e até com o meu aniversário e o do meu esposo. Mas, curiosamente, o aniversário dele era diferente. Ele comemorava com entusiasmo, vibrava com os parabéns e adorava os presentes.
Em 2022, não ouvi sequer um "parabéns" no meu aniversário. Em 2023, veio de longe, quase como quem ensaia uma nova fala. Em 2024, ganhei um abraço e um beijo — e foi nesse mesmo ano que ele não escondeu o presente feito na escola para o Dia das Mães. Mais do que isso: ele quis comprar algo para mim. Com suas palavras e seu jeitinho, ele demonstrou algo que talvez ainda não soubesse nomear: carinho, afeto, vínculo.
A verdade é que, ao adotar, a gente não recebe apenas uma criança. A gente acolhe uma história, com todas as suas nuances, feridas e defesas. E as datas comemorativas, que para muitos são só celebração, para ele talvez fossem um lugar de confusão, dor ou ausência.
Levei um tempo para compreender isso com o coração. No começo, me doía. Me perguntava: será que ele não sente nada por mim? Será que não reconhece o que estamos construindo? Mas depois percebi: ele só estava tateando esse novo território. Sentindo se era seguro amar. E principalmente: se era seguro ser amado.
A maternidade adotiva me ensinou que o amor verdadeiro não se força — ele floresce. Que as expressões de carinho podem vir de formas sutis, inesperadas e, muitas vezes, atrasadas. E está tudo bem. Cada gesto, cada olhar, cada tentativa — por menor que pareça — é uma conquista enorme.
O fato de ele sempre se sentir à vontade para comemorar o próprio aniversário me mostrou que ele sabia receber. E talvez, aos poucos, estivesse aprendendo a oferecer. A retribuir. A confiar.
Se você é mãe por adoção e já sentiu a dor de um abraço que não veio ou de um "eu te amo" que nunca foi dito — respira. Eu te entendo. A maternidade adotiva tem suas belezas, mas também seus silêncios. E nesses silêncios, às vezes mora o medo, o trauma, a dúvida... mas também mora a esperança.
Porque o vínculo não nasce do sangue — nasce da presença constante, da escuta, do acolhimento sem cobrança. E um dia, de repente, ele aparece. Num abraço. Num presente escondido com carinho. Num beijo desajeitado. E é nesse momento que a gente sente: valeu a pena.
Hoje, olho para o nosso trajeto com ternura. Ele está aprendendo a me amar — e eu estou aprendendo a ser a mãe que ele precisa. Sem pressa, sem idealização, apenas com entrega e verdade. Porque o amor não nasce pronto. Ele se constrói.
Você também é mãe por adoção? Já viveu algo parecido com seu filho(a)? Compartilha comigo nos comentários ou me escreve — seu relato pode acolher outras mães como nós.
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