E quando a gente dá tanto… e recebe tão pouco?

Desde que me tornei mãe, a vida tem ganhado outras cores, sons e significados. Algumas coisas, mesmo simples, se tornaram profundamente simbólicas. Outras, por mais corriqueiras que sejam, chegam como verdadeiras tempestades, ativando dores e feridas antigas que eu nem sabia que ainda estavam abertas.
A maternidade, para mim, tem sido esse caminho tortuoso e, ao mesmo tempo, mágico: um misto de enfrentamento e cura. E hoje, quero compartilhar algo que pode parecer pequeno para o mundo, mas que mexeu profundamente comigo. Talvez, se você é mãe ou mulher em processo de autoconhecimento, isso também ressoe aí dentro.
Tenho alguns bichinhos de pelúcia pequenos, do tipo que enfeitam mochilas como chaveiros. Não são novos, nem caros, mas têm um valor afetivo especial. E um dia, sem que eu soubesse, meu filho os pegou e levou para a escola. Até aí, tudo bem. Só fui descobrir o motivo real hoje, meses depois do início do ano letivo.
Perguntei casualmente por que ele não os trazia mais para casa. E a resposta me atingiu em cheio:
— Não, mamãe, eles são da Aline (a psicóloga dele) agora. Se eu tirar eles dela, vão ficar tristes. Eles nem lembram mais de você.
Pode parecer uma frase boba, até meio engraçada. Mas naquele momento, algo dentro de mim se reorganizou. Um entendimento silencioso surgiu entre minhas emoções e memórias. Meu filho, em sua linguagem inocente e cheia de imaginação, estava me dizendo que estava bem. Que estava seguro. Que encontrou conforto e apoio na terapia. E, de forma ainda mais profunda, me mostrou que ele me reconhece como mãe — no mais pleno sentido da palavra.
Para muitas de nós, mulheres que carregam traumas da infância, aceitar o amor dos filhos pode ser desafiador. Nos perguntamos, silenciosamente, se seremos boas mães. Se daremos conta. Se merecemos esse amor incondicional. E às vezes, é num gesto simples — como o de dar um bichinho de pelúcia para a psicóloga — que encontramos respostas emocionais que procuramos por anos.
A fala do meu filho, que dizia que "eles nem lembram mais de você", me trouxe lágrimas, mas não de dor. Era como se ele dissesse: "Mamãe, eu estou bem. Você me deu o suficiente para que eu pudesse seguir. Eu confio." E isso... isso cura.
Muitas vezes, estamos tão sobrecarregadas que deixamos passar essas pequenas pistas do mundo emocional dos nossos filhos. Mas quando paramos para ouvir, observar e, principalmente, sentir, percebemos que estamos fazendo um trabalho valioso.
Se você, mãe, está lendo isso agora e se sente esgotada, confusa ou até mesmo desconectada do seu filho, saiba: o amor mora nas entrelinhas. Às vezes, ele aparece num brinquedo emprestado, num desenho desajeitado ou numa frase que à primeira vista parece sem sentido.
Esse blog é o meu espaço de acolhimento e cura. Escrevo para me entender, mas também para te abraçar, mulher. A maternidade não precisa ser solitária. E você não está errada por sentir demais, por chorar escondida ou por duvidar do seu valor. Você está vivendo intensamente um dos papéis mais desafiadores e transformadores da existência.
E se hoje, como eu, você também sentiu que seu filho te “adotou” de verdade, mesmo sem dizer com essas palavras, abrace esse momento com carinho. Porque às vezes, no silêncio das palavras infantis, a vida nos mostra que estamos no caminho certo.
Fique atenta às falas espontâneas do seu filho. Elas podem revelar muito mais do que você imagina sobre o vínculo entre vocês e sobre o mundo interno da criança. Valorize esses momentos e, se possível, registre-os. Eles são pequenas âncoras emocionais para os dias difíceis.
Se esse texto te tocou de alguma forma, compartilhe com outra mãe. Às vezes, tudo que precisamos é saber que não estamos sozinhas.
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