E quando a gente dá tanto… e recebe tão pouco?

Sou mulher, mãe, esposa. Carrego muitos papéis, mas acima de tudo, carrego histórias. As minhas, a do meus filho, e as que me foram contadas antes mesmo de eu saber quem eu era.
Minha infância não foi perfeita. Aliás, acho que poucas são. Cresci entre conflitos e confusões que muitas vezes me deixaram marcas, mas também encontrei afeto nos detalhes, nos gestos pequenos, nos momentos que hoje escolho guardar com carinho. Aprendi que há muito mais por trás de cada silêncio, de cada dureza, de cada ausência.
Por muito tempo, olhei para meus pais com julgamento. Questionava suas escolhas, suas falas, suas falhas. Achava que haviam errado comigo — e, de certa forma, erraram sim. Mas o que mudou tudo foi entender o que vinha antes de mim.
Aos oito anos de idade os meus pais já trabalhavam. Crianças que mal tinham crescido e já carregavam o mundo nas costas. Ambos filhos de pais que bebiam, de mães que se desdobravam entre a lida da casa e a criação dos filhos, como podiam, como conseguiam. Como sobreviveram. Cresceram com pouco, com o necessário, com o possível. E o que me ofereceram foi o melhor que eles conheciam.
Essa percepção me libertou de um peso enorme. Não justificou todas as dores, mas me ajudou a não alimentá-las mais. Entendi que eles também foram crianças machucadas, tentando ser adultos funcionais. Entendi que muitos dos comportamentos que me feriram eram, na verdade, heranças emocionais. Ciclos. E ciclos podem ser quebrados.
Hoje, busco curar em mim aquilo que eles nem sabiam nomear. E não faço isso com raiva, mas com amor. Eu os acolho como posso, com a maturidade que a vida me trouxe e com a compaixão que a maternidade despertou em mim.
Porque nem tudo foi ruim. Meu pai me contava histórias e elaborava truques de mágicas com brilho nos olhos. Minha mãe, com toda sua dureza, sentava-se comigo para fazer roupinhas de boneca. Ela improvisava bonecas com pano, e eu me sentia gigante por conseguir costurar com ela. São essas lembranças que me abraçam nos dias difíceis. São elas que me fazem escolher o amor, apesar das falhas.
O meu blog nasceu dessa vontade de acolher outras mulheres que também carregam histórias pesadas e tentam encontrar leveza nos detalhes. Aqui, escrevo como quem conversa com uma amiga. Compartilho maternidade, casamento, rotina… mas, acima de tudo, compartilho meu processo de cura. Porque escrever é minha forma de respirar. É minha terapia.
E se você se reconheceu nesse texto, saiba: não está sozinha. Há outras como nós — mulheres que choram escondido, mas também riem alto. Que erram e tentam de novo. Que, apesar de tudo, continuam. Mulheres que querem fazer diferente, não por arrogância, mas por amor.
O passado nos molda, mas o presente nos oferece a chance de transformar. E a gente segue — com memória, com afeto e com coragem para seguir fazendo diferente.
Com carinho,
Além das Cinzas
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