E quando a gente dá tanto… e recebe tão pouco?

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Me diz, você já se sentiu assim? Como se tudo que você faz nunca fosse o bastante… ou, pior, como se ninguém percebesse o quanto você se doa? Eu me sinto assim. Mais vezes do que gostaria de admitir. E, sempre acabo me sentindo sozinha. Se eu vou pra cozinha, faço questão de caprichar. Escolho com cuidado os ingredientes, penso no que cada um gosta, tempero com amor, porque, pra mim, cuidar é uma forma de amar. Se limpo a casa, não é só pra ficar apresentável. Eu quero ver o branco voltar a ser branco, quero sentir aquele cheirinho de casa limpa, de cuidado, de aconchego. Porque eu não sei fazer de qualquer jeito. Nunca soube. E, ainda assim... tem dias que o peso vem. Vem quando percebo que o café — aquele café que tanto me faz bem — tá acabando… e fico esperando, quase na esperança boba, que alguém perceba e compre. Que alguém se lembre que isso também é amor. Vem quando vejo que, se alguém resolve "ajudar" na faxina, o pó dos móveis fica lá. E eu me pergunto: será qu...

As raízes que me sustentam: sobre dores herdadas, memórias de afeto e o poder da compreensão

Acolhimento e cura

Sou mulher, mãe, esposa. Carrego muitos papéis, mas acima de tudo, carrego histórias. As minhas, a do meus filho, e as que me foram contadas antes mesmo de eu saber quem eu era.


Minha infância não foi perfeita. Aliás, acho que poucas são. Cresci entre conflitos e confusões que muitas vezes me deixaram marcas, mas também encontrei afeto nos detalhes, nos gestos pequenos, nos momentos que hoje escolho guardar com carinho. Aprendi que há muito mais por trás de cada silêncio, de cada dureza, de cada ausência.


Por muito tempo, olhei para meus pais com julgamento. Questionava suas escolhas, suas falas, suas falhas. Achava que haviam errado comigo — e, de certa forma, erraram sim. Mas o que mudou tudo foi entender o que vinha antes de mim.


Aos oito anos de idade os meus pais já trabalhavam. Crianças que mal tinham crescido e já carregavam o mundo nas costas. Ambos filhos de pais que bebiam, de mães que se desdobravam entre a lida da casa e a criação dos filhos, como podiam, como conseguiam. Como sobreviveram. Cresceram com pouco, com o necessário, com o possível. E o que me ofereceram foi o melhor que eles conheciam.


Essa percepção me libertou de um peso enorme. Não justificou todas as dores, mas me ajudou a não alimentá-las mais. Entendi que eles também foram crianças machucadas, tentando ser adultos funcionais. Entendi que muitos dos comportamentos que me feriram eram, na verdade, heranças emocionais. Ciclos. E ciclos podem ser quebrados.


Hoje, busco curar em mim aquilo que eles nem sabiam nomear. E não faço isso com raiva, mas com amor. Eu os acolho como posso, com a maturidade que a vida me trouxe e com a compaixão que a maternidade despertou em mim.


Porque nem tudo foi ruim. Meu pai me contava histórias e elaborava truques de mágicas com brilho nos olhos. Minha mãe, com toda sua dureza, sentava-se comigo para fazer roupinhas de boneca. Ela improvisava bonecas com pano, e eu me sentia gigante por conseguir costurar com ela. São essas lembranças que me abraçam nos dias difíceis. São elas que me fazem escolher o amor, apesar das falhas.


O meu blog nasceu dessa vontade de acolher outras mulheres que também carregam histórias pesadas e tentam encontrar leveza nos detalhes. Aqui, escrevo como quem conversa com uma amiga. Compartilho maternidade, casamento, rotina… mas, acima de tudo, compartilho meu processo de cura. Porque escrever é minha forma de respirar. É minha terapia.


E se você se reconheceu nesse texto, saiba: não está sozinha. Há outras como nós — mulheres que choram escondido, mas também riem alto. Que erram e tentam de novo. Que, apesar de tudo, continuam. Mulheres que querem fazer diferente, não por arrogância, mas por amor.


O passado nos molda, mas o presente nos oferece a chance de transformar. E a gente segue — com memória, com afeto e com coragem para seguir fazendo diferente.


Com carinho,

Além das Cinzas

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