E quando a gente dá tanto… e recebe tão pouco?

Hoje me emocionei com um post simples, mas cheio de significado. Uma mulher dizia que deseja adotar uma criança mais velha, com mais de quatro anos. Mas junto do desejo, vinha o medo. O medo da rejeição. E como entendo esse medo... ele não é imaginário, ele é real. Ele viveu aqui, entre as paredes da minha casa e os silêncios do meu coração.
Na hora, me lembrei da doula de adoção que nos atendeu quando nosso filho chegou. Ela disse algo que nunca mais esqueci: “devemos sempre nos preparar para o pior, esperando que o melhor aconteça.” Essa frase, dita com tanta firmeza e cuidado, ficou em mim. Porque o processo de adoção é, sim, um mergulho em águas desconhecidas. É amor e entrega, mas também é dor, frustração, medo e cansaço. Nem tudo será bonito ou fácil. Nem tudo será como nos filmes. Mas tudo, absolutamente tudo, pode ser transformador.
Não fui rejeitada. Mas ouvi do meu filho que eu nunca seria mãe dele. Ouvi que ele sentia ódio de mim — e não sabia explicar por quê. Houve dias em que chorei escondida. Dias em que pensei que não daria conta. Que talvez tivesse errado ao acreditar que bastaria amor. Que talvez eu não fosse suficiente. Mas o tempo passou. Três anos se passaram. E seguimos aqui, reconstruindo. Não com romantismo, mas com verdade. Não com perfeição, mas com presença.
Ele ainda não me chama de mãe. E talvez nunca chame. Mas eu sou. Eu sou mãe mesmo assim. Sou mãe no cuidado, na constância, no colo oferecido mesmo quando recusado. Sou mãe quando digo “tô aqui” e fico, mesmo quando ele pede para eu ir embora. Sou mãe no abraço silencioso, no prato de comida deixado ao lado, no lençol trocado, no olhar que diz: “eu vejo você, mesmo quando você me empurra”.
Não gerei esse filho no ventre, mas ele nasceu pra mim. E esse amor, que não tem nome fixo e às vezes dói mais do que consola, é o que me move. Nada, absolutamente nada do que me digam, pode invalidar a maternidade que existe em mim.
Escrevo isso porque senti. Porque maio chegou. E com ele, o mês das mães. O mês da adoção. E se há um momento simbólico para falar de maternidades que fogem do esperado, é agora. Que a gente pare de julgar o que não entende. Que a gente abrace o que é diferente. Que a gente respeite as mães que não foram chamadas de mãe, mas que amam com a mesma intensidade — ou até mais.
Ser mãe por adoção é um ato de coragem. É amar mesmo sem garantias. É insistir mesmo sem retribuição imediata. É escolher todos os dias, mesmo quando o outro ainda não escolheu você. É construir um amor que, aos poucos, ganha espaço. E sentido.
Se você está nesse caminho ou pensa em trilhar por ele, eu te entendo. Te acolho. E te digo com o coração aberto: você não está sozinha.
Neste espaço, onde escrevo para me curar e me encontrar, espero que você também se sinta vista. Que se reconheça. Que encontre um pouco de abrigo.
Porque o amor pode nascer de muitos jeitos. E todo amor é real. Todo amor merece ser honrado. Inclusive o seu. Inclusive o meu.
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